Estamos prestes a começar a nossa jornada de aprendizagem. Convidamos você a colocar seus fones de ouvido, apertar o cinto da concentração e se deixar inspirar pelo nosso vídeo introdutório:
Este conteúdo é baseado nas ideias de referentes narrativos como Reframe, Hope-based Comms, the Global Narrative Hive, the Narrative Avengers, Race Forward, NMap e outras organizações no mundo todo. Fundimos as suas contribuições com a nossa perspectiva latino-americana para oferecer aos movimentos pela justiça social uma visão renovada da comunicação em direitos humanos.Agora sim, vamos aprender!
Pesquisa de audiência para ativistas
Quando temos claro o objetivo que queremos alcançar com o nosso trabalho como ativistas e organizações para a mudança social, é indispensável entender e conhecer a quem devemos dirigir nossas comunicações para atingir esse objetivo. Esses grupos de pessoas com quem interagimos através dos diferentes canais são conhecidos como audiência ou público.
A pesquisa de audiência é um processo de coleta de dados e análise de informações sobre as pessoas a quem buscamos impactar por meio de nossas campanhas e estratégias de comunicação. Com ela, pretendemos ir além da nossa intuição – que às vezes pode ser tendenciosa ou incompleta – e responder a perguntas como: Quais são suas características demográficas? Quais são seus valores?
Esses processos podem ser tão simples ou complexos quanto precisarmos, e não é necessário termos dados especializados ou recursos financeiros para começar a pesquisar. Podemos dar o primeiro passo de forma intuitiva, observando, realizando pesquisas informais ou entrevistando pessoas próximas que se assemelhem ao nosso público-alvo. O segredo é coletar evidências gradualmente e compará-las com as observações iniciais, mantendo um registro de nossas investigações ao longo do tempo.
No Inspiratório, trabalhamos para que os movimentos pela justiça social tenham acesso a dados especializados por meio da criação e publicação de pesquisas de audiência em parceria com a Sensata UX. Nossos estudos permitem entender melhor os diferentes públicos em toda a América Latina e estão disponíveis para ativistas e organizações consultarem e usar em suas estratégias de comunicação. Clique aqui para conhecer alguns deles.
Agora sim, comece o processo de aprendizado descobrindo alguns dos métodos ou técnicas mais comuns para realizar pesquisa de audiências e as recomendações que descobrimos a partir da nossa experiência com a Sensata para criar histórias e mensagens que transcendam a intuição e se conectem com as pessoas necessárias para alcançar a mudança social.
São uma forma eficaz de coletar dados quantitativos sobre nossos públicos. Podemos fazer perguntas específicas em áreas como dados demográficos, interesses, hábitos de consumo de conteúdo, valores, opiniões, posturas e comportamentos sobre temas específicos. As pesquisas podem ser realizadas online, por telefone, pessoalmente, através de redes sociais, etc.
São boas para:
Coletar informações de um número significativo de pessoas.
Obter dados quantitativos que podem ser uma evidência objetiva da realidade.
Não são tão boas para:
Obter informações detalhadas sobre os nossos públicos, pois não conseguimos entender o porquê de suas respostas.
Este é um método qualitativo que pode nos oferecer uma visão mais profunda do nosso público. As entrevistas são geralmente semi-estruturadas, o que significa que temos um conjunto de perguntas pré-definidas, mas também temos a liberdade de explorar temas com mais profundidade de acordo com as nossas necessidades.
São boas para:
Fornecer informações detalhadas sobre as atitudes e reações das pessoas.
Criar proximidade com os nossos públicos.
Não são tão boas para:
Obter informações de um número significativo de pessoas.
Coletar dados quantitativos.
Esta é outra técnica qualitativa que consiste em reunir um grupo de pessoas (geralmente de 6 a 10) para discutir um tema específico em profundidade. Uma pessoa facilita o espaço e orienta a conversa para coletar opiniões, crenças e atitudes dos participantes.
São boas para:
Fornecer dados muito específicos sobre um tema a partir de diferentes perspectivas.
Obter informações sobre o que a sociedade considera desejável.
Não são tão boas para:
Obter informações de um grande número de pessoas.
Coletar dados em um curto período de tempo.
Esta é outra ferramenta de pesquisa qualitativa que permite sintetizar e visualizar as informações de uma pessoa ou de um grupo de pessoas sobre um tema, a partir de quatro variáveis: o que elas dizem, o que fazem, o que pensam ou o que sentem sobre o tema a ser investigado.
São boas para:
Aprofundar uma pesquisa de audiência existente.
Identificar novas oportunidades de conexão com um público específico.
Não são tão boas para:
Receber informações de um grupo grande de pessoas.
Obter informações quantitativas, como dados ou classificações.
No contexto da mudança social, sabemos que os nossos movimentos serão bem-sucedidos se conseguirmos fazer comunicações que atraiam simpatizantes para nossas causas, motivem pessoas flexíveis e neutralizem mensagens antagônicas. Mas o que isso significa?
Embora seja fundamental compartilharmos a visão de longo prazo que queremos alcançar com o resto do movimento, é essencial que cada organização e ativista compreenda qual é o papel a partir do qual pode e deseja contribuir para diversificar as táticas e dividir os papéis de forma que, em comunidade, consigamos cobrir todas as frentes.
Percorra cada imagem para descobrir as características dos três grupos de públicos mencionados acima e algumas recomendações para colocar em prática nos nossos movimentos:
Já conhecemos os três tipos de audiências-chave para as nossas estratégias de comunicação. No entanto, queremos aprofundar uma categoria comumente esquecida pelos movimentos sociais: os públicos flexíveis.
Essas audiências se apresentam como uma oportunidade para onde orientar nossos objetivos de comunicação, já que costumam representar entre 40% e 50% da população em todos os países da América Latina. Milhões de pessoas com o potencial de se tornarem aliadas das nossas organizações e ativismos. Para fortalecer o impacto dos nossos movimentos e mudar a história, compreender e ter empatia com as audiências flexíveis não é somente um componente fundamental para avançar nas causas dos direitos humanos, mas é uma das ações mais estratégicas na disputa pelo bom senso.
Exercício: Marque falso ou verdadeiro em cada frase, conforme o caso.
A pesquisa de nossas audiências é uma ferramenta estratégica porque nos permite ser mais eficazes em nossas comunicações. Às vezes, assume-se que o objetivo do ativismo é fazer com que as pessoas mudem de opinião sobre um problema ou causa. Também é comum que o trabalho de comunicação de organizações e ativistas se concentre em promover debates, confrontos ou denúncias de injustiças e violações dos direitos humanos. Embora todas essas ações sejam fundamentais para os nossos movimentos, limitar-se a esses métodos pode ter efeitos contraproducentes em algumas audiências, que, em vez de se aproximarem do nosso propósito, acabam se distanciando porque, apesar de concordarem com as questões, sentem-se desconectadas das formas como comunicamos.
Para se aprofundar, convidamos você a conhecer mais no módulo 2: transformando o apocalipse em esperança.
É preciso entenders que, para promover mudanças culturais, precisamos ir muito além em nossos esforços de comunicação, que comumente se concentram em mudar a opinião das pessoas sobre um assunto. Devemos transformar o bom senso, redefinindo aquilo que uma parte suficientemente ampla da sociedade considera como desejável, bom e valioso.
Vamos observar este exemplo:
As opiniões e as práticas culturais são como um iceberg. Na ponta, na superfície, vemos apenas as ações das pessoas, por exemplo, as causas que apoiam, as que não apoiam e as que lhes são indiferentes; no entanto, abaixo da superfície está todo o seu sistema de crenças, muitas vezes inconscientes, que sustentam e influenciam os pensamentos e as ações das pessoas e da sociedade como um todo.
A pesquisa de audiências realizada pela Sensata em conjunto com o Inspiratório torna-se então uma ferramenta útil para investigar o que está sob a superfície desses “icebergs culturais”, permitindo-nos entender esses valores profundos: as crenças, normas sociais, expectativas e atitudes que determinam as percepções, ações e comportamentos das pessoas, e nos fornecendo uma visão abrangente dos aspectos que precisam ser desafiados ou mudados por meio do trabalho narrativo.
Convidamos você a conhecer mais sobre as percepções das audiências da América Latina em relação à migração aqui.
Através do nosso trabalho de comunicação como ativistas, não buscamos somente informar e aprender coletivamente, mas também conectar emocional e humanamente com nossas audiências. Esse processo de 'construir pontes' é essencial para uma comunicação eficaz e para uma mudança narrativa duradoura.
Para esse trabalho, precisamos primeiro entender o panorama completo de nossas audiências. Cada grupo de pessoas tem seu "iceberg cultural", seus próprios valores que impulsionam suas ações. Nesse sentido, é vital compreender não só as ações visíveis na superfície (como sua posição sobre direitos igualitários e LGBTI+, por exemplo), mas também o que está abaixo da superfície: nesse caso, as crenças religiosas, os medos e preconceitos, as normas de gênero e o nível de conhecimento ou falta de informação sobre certos temas.
Entendendo esses fatores, é possível identificar os elementos que ameaçam o que as pessoas valorizam e, consequentemente, desencadeiam resistência à mudança. Ao saber disso, podemos procurar áreas de consenso ou pontos em comum. Esses pontos em comum podem não estar diretamente relacionados à causa principal de nossos ativismos ou organizações, mas são essenciais para criar uma base comum a partir da qual a conversa pode ser construída. Essas pontes, igualmente, não têm a intenção de mudar as crenças arraigadas das pessoas da noite para o dia, mas abrir espaços para o diálogo, a empatia e a compreensão. O objetivo é construir uma base comum para começar a desenhar coletivamente o mundo com que sonhamos.
Exemplos:
Se a rejeição a alguns direitos for alimentada por algumas crenças religiosas, é possível construir uma ponte que promova o amor, o respeito e a dignidade, valores que costumam ser centrais em muitas religiões. Podemos mostrar como respeitar os direitos de todos é uma ideia compatível com esses valores.
Se você trabalha em prol do ativismo ambiental e descobre que sua audiência valoriza a família acima de tudo, mas acha a transição energética cara e difícil, você poderia construir histórias em torno da ideia de que as ações para mitigar a crise climática são essenciais para garantir um planeta saudável e sustentável para seus filhos, netos e gerações futuras.
Para finalizar, convidamos você a refletir e responder individualmente ou com sua comunidade ativista:
Desde o seu ativismo, qual evidência você tem atualmente sobre os valores profundos da sua audiência principal?
Quais são os valores profundos que parecem provocar resistência à mudança nessas audiências e, a partir deles, como poderíamos construir pontes com elas, reconhecendo e respeitando esses valores, mas incentivando outras perspectivas?
Que tipo de conteúdo você pode criar nessa direção?
Se você achou este conteúdo útil e quer fazer parte da nossa equipe de ativistas e agentes de mudança para continuar aprendendo, entre agora na nossa Comunidade de Prática no WhatsApp. Aqui você poderá:
Sua opinião é o mais importante
Este conteúdo é útil para o seu movimento ou ativismo? Avalie sua experiência de aprendizado e vamos construir juntos o futuro do trabalho narrativo: